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SELEÇÃO ARTIFICIAL X BULLDOG INGLÊS

Recebi como muita alegria o belo trabalho realizado pela academica PAULA CHICONI DACUNTO DOS SANTOS (2º ano de Medicina Veterinária na Universidade de Franca – UNIFRAN), onde o objeto central é o Bulldog inglês e o trabalho de seleção artificial realizado com a raça, vale a pena conferir! Parabéns Paula!

“Trabalho realizado para disciplina de Comunicação, Expressão e Metodologia Científica no 4º bimestre de 2010.

Orientadora: Profª. Drª. Antonella Cristina Bliska Jacinto.

FRANCA

2010

AGRADEÇO a todos que colaboraram para a elaboração deste trabalho, especialmente aos seguintes médicos veterinários que doaram gentilmente um pouco do seu tempo ao responder o questionário: Antonella C. Bliska Jacinto, Daniel Paulino Júnior, Denise de Moraes, Luís Osório Figueiredo Filho, Raquel Tittoto de Oliveira Massaro, Sandra B. Prado, Taise Lima Donegá, Tatiana M. Taguchi, Thaís Melo de Paula e Viviane Dubal; à minha orientadora Antonella (Nelly); à minha amiga e professora Josiane Maria Starling Duarte; à Gilberto Pires Medeiros Filho, dono do Canil Reserva do Rei, que foi gentil cedendo as fotos dos animais de sua propriedade para que ilustrassem este trabalho; agradeço especialmente meu pai, Anselmo Davi Dacunto dos Santos, por dedicar tempo à minha escrita, me orientando o tempo todo, todo autor precisa de um pai como ele por trás do processo de criação.

INTRODUÇÃO

A história evolutiva dos cães é um dos mais interessantes assuntos relacionados a estes animais, já que os mesmos aparentemente foram os primeiros a serem domesticados pelo homem e, devido à sua companhia e afeição ao ser humano, são denominados como “os melhores amigos do homem”.

O conhecimento de seus antepassados ainda requer diversas pesquisas, pois mesmo nos dias atuais, pesquisadores relatam não poderem afirmar se os cães vieram dos Lobos Cinzentos (Canis lupus; anexos, figura: 1) ou dos Lobos Asiáticos como, por exemplo, os lobos árabes (Canis lupus arabs; anexos, figura: 2). Recentemente cientistas da Universidade de Tübingen, na Alemanha, identificaram fragmentos de crânios e restos de dentes caninos, encontrados em 1873, estes restos são indiscutivelmente do cão mais antigo do mundo já encontrado, datando de 14 mil anos. Estes fragmentos foram encontrados no século XIX numa caverna de Kesslerloch, no norte da Suíça, e somente recentemente paleontólogos e arqueólogos identificaram os restos como provenientes de um cão ao comparar o tamanho dos dentes caninos deste animal com os de outros animais encontrados na caverna que eram de lobos primitivos.

A evolução dos cães caminhou juntamente com a seleção natural e seleção artificial. A seleção natural é o processo pelo qual todas as espécies passam, onde os indivíduos mais adaptados ao local em que vivem serão os pais da geração subseqüente. Portanto se os cães vieram dos lobos asiáticos ou dos lobos cinzentos foi graças à seleção natural que os moldou através de séculos, pela sobrevivência do mais adaptado, selecionando aqueles mais aptos à aproximação humana. Os lobos mais mansos e maleáveis começaram a se aproximar das colônias humanas e a partir desse momento o homem começou a interferir, realizando cruzamentos para o próprio uso e não deixando esses animais se reproduzirem naturalmente, ou seja, o homem começou a fazer a seleção artificial destes animais, selecionando os mais aptos para certas tarefas diárias.

Assim, o uso da seleção artificial possibilitou a formação das mais variadas raças de cães, desde os pequenos Chihuahuas, aos enrugados Sharpeis Chineses

(Anexos, figura: 4) e até aos gigantes Dogues Alemães (Anexos, figura: 3). Porém, alguns cães sofreram alterações mais significativas e consequentemente maiores modificações ocorreram com o passar dos tempos nesse tipo de seleção, como por exemplo, o Bulldog Inglês (Anexos, figura 5) que com o passar dos tempos foi cada vez mais modificado através deste tipo de seleção. O passado obscuro de lutas sangrentas e cruéis como o bull baiting e o bear baiting foi extinto no temperamento atual da raça.

Em uma recente pesquisa realizada entre os dias 17 de agosto e 17 de setembro de 2010 nas regiões Sudeste (Nas cidades de: Franca, Jaboticabal e Ribeirão Preto) e Sul (Na cidade de: Porto Alegre) com animais da raça Bulldog Inglês com as mais variadas doenças, os profissionais da área de Medicina Veterinária constataram, que em alguns casos, tais doenças originam-se da seleção artificial incorreta e alta consangüinidade. Tais fatores podem ser facilmente observados e identificados quando uma raça se torna popular.

Dos 303 cães da raça Bulldog Inglês da pesquisa cerca de 30,36% possuíam algum tipo de dermatite; 17,2% dos animais apresentaram alguma enfermidade ocular; 10,6% alguma enfermidade cardíaca; 14,52% dos animais possuíam algum tipo de enfermidade estrutural e 7,3% dos Bulldogs Ingleses apresentaram má formações maxilares e mandibulares como fenda palatina e lábio leporino. Em fêmeas, cerca de 8,91% do partos foram distócicos.

A DOMESTICAÇÃO DOS LOBOS

A evolução dos cães permanece incerta, pode-se afirmar apenas, através de dados genéticos, arqueológicos e paleontológicos, que a relação do homem com o cão data de aproximadamente 14 mil anos atrás, no mínimo. É bem possível que os progenitores dos cães domésticos tenham vindo de diversas raças de lobos e não exclusivamente do lobo cinzento americano que todos conhecem, existem raças ou subespécies distintas de lobos que além de serem originários de várias regiões do mundo também possuem comportamentos e padrões de pelagens completamente diferenciados uns dos outros como, por exemplo: o lobo da tundra (Canis lupus

albus); o lobo russo (Canis lupus communis); o lobo europeu (Canis lupus lupus); o lobo ibérico (Canis lupus signatus); o lobo itálico (Canis lupus italicus); o lobo do deserto árabe (Canis lupus arabs); o lobo ártico (Canis lupus arctos); o lobo das planícies (Canis lupus nubilus) e o lobo mexicano (Canis lupus baylei).

A associação dos homens e dos lobos teve benefícios mútuos, pois ambos eram caçadores nômades durante o fim da era do gelo no Paleolítico. Estes animais começaram a se aproximarem das colônias humanas e ali permanecerem, por interesse nos restos de comida que ganhavam, na caça aos roedores que se alimentavam do lixo deixado para trás, ou até da possibilidade dos os humanos terem capturados e criados os animais órfãos como se fossem da família. Portanto, foi o lobo que escolheu viver perto das colônias, se permitindo domesticar ao viver nos arredores dos humanos, esses animais viram nessas áreas um habitat próspero. Os homens ganhavam a proteção dos lobos que permaneciam nas proximidades. Os nativos começaram a capturar os filhotes dos lobos que eram tão atrativos quanto os filhotes de cães domésticos de hoje, esse seria um passo extremamente importante para a domesticação desses animais.

Tanto o homem quanto os lobos viviam em sociedades hierárquicas, onde a cooperação na caça e o cuidado com os mais jovens eram similaridades que contribuíram para o entendimento de ambos e futuramente para o sucesso da domesticação. Quando o homem iniciou a transição de se estabelecer em habitações fixas e abandonar o nomadismo, a relação deste com o lobo já estava fortemente estabelecida e o primeiro passo para a domesticação estava dado. Para o homem que enfrentava a nova vida pós era do gelo e pós nomadismo, os instintos dos lobos na caça, na proteção do território, na lealdade e no pastoreio seriam complementares e poderiam ser essenciais à sobrevivência da espécie humana.

Segundo Fogle (2006), Dmitry Belyaev um famoso geneticista russo, demonstrou através de um experimento iniciado nos anos 50 com raposas como é simples e rápido modificar e adaptar comportamentos animais.

Assim, Dmitry Belyaev (Anexos, figuras: 6 e 7) escolheu dentre algumas ninhadas que eram utilizadas na indústria da pele, filhotes de raposa que tinham menor medo ao serem tocados ou que vinham mais facilmente lamber sua mão, em outras palavras o cientista procurou por filhotes que mantinham o comportamento

juvenil. Em menos de dez gerações os animais já se comportavam como domesticados aceitando estranhos, lambendo a mão e choramingando quando sozinhos.

Em poucas gerações, selecionadas por docilidade, Belyaev constatou outras características nestes animais como olhos azuis, pelagem malhada, comportamentos como o abanar da cauda constante e a submissão. Assim, o cientista “criou” o comportamento de eternos filhotes o que é amplamente observado em diversas raças de cães.

COMO A SELEÇÃO NATURAL E A SELEÇÃO ARTIFICIAL INFLUENCIARAM NA FORMAÇÃO DO CÃO DOMÉSTICO

Se hoje, temos uma enorme variedade de raças e linhagens foi graças às seleções naturais e artificiais. Como mencionado anteriormente, a domesticação do lobo foi crucial para o sucesso da sobrevivência do homem na pós era do gelo. A aproximação destes animais às colônias humanas, por qualquer que tenham sidos os motivos, possibilitou o nascimento de filhotes já adaptado à presença dos homens, esses lobos já não se sentiam mais ameaçados na presença do homem e geração após geração os filhotes ficavam cada vez mais mansos.

Para Otto, (2006, p. 115) “a seleção natural atua favorecendo os animais que tenham maiores vantagens em determinado ambiente deixam descendência maior que os outros, assim, a tendência da existência destes genes na população é grande. Já na seleção artificial os indivíduos que se reproduzirão serão aqueles selecionados por características julgadas importantes pelo homem.”

Segundo Darwin (1859) “se qualquer modificação, por menor que seja de hábito ou de estrutura trouxesse algum benefício para um lobo, este teria muito mais oportunidade de sobreviver e deixar descendência. Dentre os filhotes, alguns provavelmente herdariam os mesmos hábitos ou características estruturais e, pela repetição desse processo poderiam formar uma nova variedade capaz de suplantar a espécie ancestral e coexistir juntamente com ela.”

A domesticação do lobo é um dos exemplos de seleção natural. Os lobos mais mansos, neste caso, eram aqueles que estavam em vantagem naquele ambiente próximo às colônias humanas e por isso, provavelmente, eram os que deixavam maior descendência passando os genes à geração subsequente.

Os filhotes dos lobos eram adoráveis como os filhotes dos cães domésticos atuais e os homens começaram a capturá-los. A partir desse momento o homem interferiu na seleção natural e iniciou o acasalamento dos animais para que esses desempenhassem tarefas. Desta maneira o homem, selecionou os lobos artificialmente deixando que se reproduzissem somente aqueles animais que detinham características julgadas desejáveis ou importantes, tais como: velocidade, pastoreio, guarda etc. A experiência de Belyaev com as raposas revelou que o processo de domesticação não é tão demorado e que a partir de poucas gerações observam-se resultados.

Décadas a fio de seleção, tornaram esses animais completamente diferentes do seu ancestral, com padrões de pelagens diferentes e principalmente, com o comportamento diferenciado. Cada animal era selecionado para uma função específica e aqueles que se sobressaíssem seriam pais da próxima geração. Essa diferenciação de funções foi o início da formação das raças, sendo que, os animais que possuíssem comportamento, pelagem e funções similares formariam uma única raça. Com o passar do tempo tais atividades levaram à criação de exposições das diversas raças de cães atualmente existentes.

Entusiastas e admiradores de algumas raças formaram clubes que se dedicaram à promoção e a excelência de determinadas raças, assim no século XIX surgiriam as primeiras organizações de registro de animais com raça pura, os kennel clubs. As raças com pedigree podem ser registradas nestes clubes, os quais mantêm registros genealógicos que documentam as linhagens das raças. Estes clubes dividiram os cães em grupos, cada um estabeleceu um tipo de divisão. A Confederação Brasileira de Cinofilia divide os cães em 11 grupos, abaixo definidos:

1º GRUPO – Cães Pastores e Boiadeiros – exceto os Boiadeiros Suíços;

2º GRUPO – Cães do Tipo Pinscher, Schnauzer, Molossos e Boiadeiros Suíços;

3º GRUPO – Cães Terriers;

4º GRUPO – Cães Dachshund;

5º GRUPO – Cães do Tipo Spitz e do Tipo Primitivo;

6º GRUPO – Cães Sabujos e de Pista de Sangue – Caça;

7º GRUPO – Cães de Aponte – Caça;

8º GRUPO – Cães Recolhedores, Levantadores e d’água – Caça;

9º GRUPO – Cães de Companhia;

10º GRUPO – Cães Lebréis ou Lebreiros – Galgos;

11º GRUPO – Cães de Raças em Reconhecimento, como por exemplo, o American Pit Bull Terrier e o Cane Corso.

Com a mudança dos hábitos humanos ocorreu uma troca de papéis, cães que antigamente desempenhavam certas funções hoje possuem qualidades novas como cães de estimação, havendo evidentemente exceções como, por exemplo, os cães Pastores Alemães (Anexos, figuras: 9, 10 e 11) que ainda trabalham em parceria com policiais. Já os Labradores (Anexos, figura: 15), que antigamente auxiliavam caçadores, atualmente ajudam pessoas com as mais variadas deficiências físicas eou mentais. O poderoso olfato dos Beagles (Anexos, figura: 8) e dos Bloodhounds (Anexos, figuras: 12, 13 e 14) é largamente explorado em vários setores como os esquadrões anti-bomba e o anti-drogas, bem diferente do passados destes cães ao lado de caçadores. O caricato Bulldog Inglês é dono de um passado violento e sangrento, sendo quase extinto por suas características de lutador na época. Hoje, através da seleção artificial, a raça é apenas uma sombra do seu passado cruel e qualquer traço do antigo lutador permanece oculto.

O PASSADO OBSCURO DO BULLDOG INGLÊS

O Bulldog, mais conhecido como Bulldog Inglês mudou muito desde o seu nascimento em um passado ainda pouco conhecido, sabe-se apenas que a raça surgiu no século XIII a partir de cães do tipo molosso. Esses cães do tipo molosso eram altamente resistentes à dor, fiéis e com características físicas pronunciadas, como o corpo pesado, peito largo, chegando aos 80 kg ou mais. Temos exemplo de algumas raças como o Cane Corso (Anexos, figura: 17), o Mastim Napolitano (Anexos, figura: 18) e os antigos Mastiff’s (Anexos, figura: 16) de guerra, amplamente utilizados por povos da antiga Roma e Grécia.

Uma das teorias mais aceitas e difundidas é a de que o Bulldog Inglês foi criado e desenvolvido nas Ilhas Britânicas, exclusivamente para propiciar diversão às pessoas em um dos “esportes” mais tenebrosos que já existiu, tanto para o cão quanto para o touro, o Bull baiting. Essas lutas cruéis e selvagens perduraram do século XIII ao século XVIII, e só foram abolidas com o decreto do Duque de Devonshire em Staffordshire no ano de 1778. Porém, infelizmente não foi o fim da utilização da raça Bulldog Inglês como uma máquina de luta, esses animais foram amplamente utilizados em lutas contra ursos, leões, macacos, ratos e qualquer outro animal que a população inglesa pudesse colocar em uma arena fechada.

Antes da popularização do Bull baiting existiu outro “esporte” quase tão difundido e popular quanto este, o Bull running, que também utilizou como principal atração cães da raça Bulldog Inglês. A modalidade consistia em soltar um touro em um pasto ou em uma arena e deixar que as matilhas de Bulldogs perseguissem e caçassem o animal.

Assim, Bull baiting (Anexos, figuras: 19 e 20) consistia em uma luta de um ou de vários cães contra um touro. Segundo Casotti, (2001) “o touro ficava amarrado e o cão rastejava em sua direção. Enquanto o touro ficava com a cabeça abaixada tentando enfiar os chifres na parte ventral do cão para jogá-lo bem alto e feri-lo na aterrissagem, o cão por sua vez atacava tentando agarrar suas narinas, o lugar mais sensível do touro. Quando obtinha resultado não soltava mais, neste caso era necessária a ajuda de alguns homens para desvencilhar o cão do touro através de pedaços de pau, chamados na época de breaking stick, colocados em sua mandíbula para abri-la com força ou cortava-se um pedaço das narinas do touro.”

Os bulldogs utilizados nessa bárbara prática divergiam dos animais de hoje apenas em tamanho, eram animais mais altos e fortes, alguns autores relatam também diferença de prognatismo menos acentuado com relação aos animais de hoje.

Pouco tempo depois da proibição do Bull baiting, uma nova luta rapidamente tomou seu lugar e popularidade, o Bear baiting. Esta modalidade de luta consistia na mesmíssima coisa que a anterior, porém com a substituição do touro pelo urso. Devido ao custo de importação e mantença de um animal como um urso o “esporte” gradualmente desapareceu.

Felizmente alguns entusiastas da raça se interessaram em mantê-la viva após a proibição de todos os tipos de luta contra animais. Não muito tempo depois do término dos combates os cães começaram a serem exibidos em exposições. No final do século XVIII e início do século XIX os animais exibidos nestas exposições eram de qualidade inferior, algumas vezes até com mutilações e muitas qualidades dos cães de luta ainda permaneciam incrustadas. Segundo Dickerson, M. (2009), “os animais possuíam crânios pequenos, narizes longos e nenhuma ruga cobrindo a cabeça. Eles eram extremamente “aleijados” e na maioria das vezes considerados sem saúde”.

Muito antes da criação do English Kennel Club foi fundado o Bulldog Club que começou a trabalhar com a criação artificial desses animais. Começaram retirando ao longo da seleção dos cães qualquer traço que lembrasse seu passado de lutador de arena. O Bulldog Club foi a primeira instituição a desenvolver um padrão oficial para a raça em 1859, os créditos dos primeiros desenhos do padrão adotado eram de Jacob Lamphier. Alguns dos pedigrees que formaram a base da raça ainda podem ser encontrados e alguns dos cães que influenciaram diretamente na formação do Bulldog atual foram: Monarch, Donald, King Dick, Old King Cole, Crib, Rosa (Anexos, figura: 24), Thunder, Sir Anthony (Anexos, figura: 22), Brutus, Sancho Panza e Byron (Anexos, figura: 21).

Criadores dos Estados Unidos se interessaram pela criação da raça e começaram a importar cães e exibi-los em suas exposições. O campeão Pugilist foi um dos Bulldogs de grande importância para a criação nos EUA.

Criadores dedicados desenvolveram na raça tudo que hoje é extremamente apreciado pelos donos desses cães e totalmente oposto ao seu passado de lutadores de arena através da seleção artificial, a dedicação e o amor pelos donos faz do Bulldog Inglês (Anexos, figura: 23) um dos cães mais apreciados para companhia.

SELEÇÃO ARTIFICIAL X BULLDOG INGLÊS

Através de um período extenso é comum observar uma raça evoluir para um cão totalmente diferente do seu ancestral. No caso específico do Bulldog Inglês poucos atributos dos seus ancestrais ainda podem ser encontrados nos cães atuais, principalmente as que se referem às características estruturais destes animais. A anatomia do Bulldog Inglês (Anexos, figura: 25) atual é bem diferente do seu ancestral, o cão atual além de possuir um peso maior, ser mais robusto e atarracado possui também uma cabeçorra enrugada com um focinho bem mais curto e achatado, e em seu dorso encontramos uma linha ascendente em direção à garupa, os membros posteriores são mais altos em relação aos anteriores que podem gerar sérios problemas nas articulações.

Provavelmente não exista uma raça que tenha mudado tanto em temperamento e em comportamento como o Bulldog Inglês. A raça foi transformada em um maravilhoso animal de companhia que realmente ama estar perto das pessoas. Sua coragem e lealdade às pessoas os fazem animais incompatíveis com a vivência em canis, estes animais precisam da companhia dos “humanos de estimação” e não podem ser deixados isolados em um canto.

Outra raça, o American Pit Bull Terrier (Anexos, figuras: 26 e 27), ainda está passando pelo processo de aceitação e desmistificação que um dia o Bulldog Inglês também passou. Estas duas raças partilham o mesmo passado cruel e a má sorte de terem caído em mãos de pessoas inescrupulosas. Há uma divergência temporal nas duas trajetórias das raças, mas a selvageria humana continua presente na vida destes animais que não tem culpa alguma de terem nascido ou caído em mãos erradas. Assim como os amantes do Bulldog Inglês que no passado não deixaram

que a raça se extinguisse, muitos amantes e criadores responsáveis pela raça American Pit Bull Terrier não deixarão que esta seja banida e ou punida pela sociedade.

O Bulldog Inglês, mais do que outras raças, sofreu uma tremenda influência da seleção artificial, o cão que vemos hoje nas ruas pouco se parece com o das arenas de antigamente. Porém, essa seleção não trouxe apenas bons resultados, essa raça é acometida por algumas doenças que podem ser ligadas diretamente à seleção artificial.

Os partos das fêmeas da raça, geralmente são feitos por cesariana devido ao crânio massivo dos filhotes não conseguirem passar através do canal do parto. Já as montas raramente ocorrem de maneira natural, os machos são muito pesados em relação às fêmeas e naturalmente não conseguem montá-las sem o auxílio para a realização da cópula.

Além dos problemas relacionados à reprodução, a raça também é extremamente propensa a problemas relacionados ao calor. No auge do verão brasileiro estes cães requerem atenção redobrada para não entrarem em um quadro chamado de hipertermia ou heat stroke que consiste no aumento da temperatura corporal excessiva, respiração rápida, desorientação, saliva grossa e em alguns casos até desmaios. Um animal que apresente um quadro como este deve ser levado com urgência ao veterinário, pois o agravo do quadro pode levar o cão a óbito. Os passeios diários com a raça devem restringir-se às horas mais amenas do dia, como o início da manhã e à noite. A raça é conhecida por seu apetite voraz e deve-se ter muito cuidado com a alimentação destes cães para não torná-los obesos, pois o quadro de obesidade acarretaria vários problemas de saúde considerados graves.

As rugas localizadas na cabeça merecem atenção especial, pois podem causar problemas retendo umidade e calor, quando situadas na testa, costumam empurrar as pálpebras superiores para dentro dos olhos levando os cílios a ferir a córnea. Como são demasiadamente próximas ao focinho podem pressionar e obstruir o canal lacrimal. De todas as peculiaridades da raça, o achatamento facial é um dos fatores que mais preocupam, entrando para a lista das características anatômicas mais problemáticas do Bulldog.

As complicações da raça se estendem por uma lista extensa devido ao achatamento facial. O focinho curto, por exemplo, interfere diretamente na capacidade do cão em respirar e transpirar, resultando dessa anomalia a tendência da raça de entrar em hipertermia, que pode ser fatal. Interferindo inclusive na aplicação de anestesias, obrigando a ser mais longa e demorada a recuperação destes após qualquer procedimento de anestesia. Os filhotes neonatos, devido ao focinho curto, podem aspirar ao leite materno e morrer engasgados.

O palato mole destes cães costuma ser maior do que deveria e desproporcional à cavidade sustentada pelo focinho, esse prolongamento em excesso pode gerar certo bloqueio na laringe, ou seja, estes cães ao se excitarem em brincadeiras poderão obstruir a passagem do ar.

CONCLUSÃO

Em 2009, a mídia, os amantes de cães e os cinófilos foram bombardeados com um documentário que mudaria a forma de enxergar a criação e exposições de cães de muitas pessoas. Ao fim do documentário estas pessoas passariam a criticar a forma de criação de alguns criadores que preconizam a beleza, o extremismo e não a saúde. Foi ao ar no Animal Planet um documentário chamado “Segredos do Pedigree”. O Bulldog Inglês foi apenas uma das “raças-vítimas” exibidas e comentadas no documentário que teve a duração de uma hora.

Se pensarmos no modelo de cão mais próximo dos lobos seriam os Dingos da Austrália estariam nessa condição, se ainda considerarmos a proximidade com seu ancestral estes animais seriam os mais saudáveis e veríamos o absurdo que alguns criadores ainda fazem com a seleção dos seus cães. O documentário “Segredos do Pedigree” está longe de ser exagerado e inverídico, este nos revela o que está acontecendo com a raça Bulldog Inglês há décadas, e pode levá-lo a uma catástrofe sem proporções se não for contida enquanto há tempo. A situação do Bulldog é grave e na maioria das vezes é agravada pela irresponsabilidade de maus criadores que sustentam o comércio das fábricas de filhotes.

O barulho mundial causado pela exibição do documentário acelerou mudanças no padrão da raça que agora pede moderação nos quesitos mais problemáticos (da raça): o crânio não será mais descrito como “grande na circunferência” e sim relativamente grande, as rugas pedem moderação, a face não será mais curta e sim relativamente curta, a ruga do focinho não poderá afetar ou ocultar prejudicialmente os olhos e narinas, esta será penalizada e inaceitável caso seja pesada demais. Quanto às pernas posteriores, antes descritas como “proporcionalmente mais longas que as anteriores a fim de levantar o lombo” são agora descritas como levemente mais longas.

Muitos criadores sérios e responsáveis já estão há algum tempo se preocupando com o comedimento na aparência do Bulldog, o animal exagerado e caricato não é mais privilegiado e reproduzido.

Nick Jeffery, PhD em Medicina Veterinária e professor da Universidade de Cambridge na Inglaterra, alerta que as mudanças realizadas podem ter caráter político a fim de agradar a mídia e às sociedades protetoras dos animais desviando o foco do assunto ou é possível, e todos esperam que essa seja a real proposta, que as mudanças tenham sido realizadas na tentativa de minimizar os problemas que acometem a raça.

Política ou não o importante é que a mensagem foi divulgada, o padrão da raça será suavizado. Ninguém sabe quanto tempo levará para que os efeitos sejam realmente visíveis, mas o pontapé inicial foi dado e está a cargo de cada árbitro de exposição, de cada dono e de cada criador a responsabilidade de tornar estes cães mais saudáveis. Se cada árbitro e juiz deixarem de consagrar cães com traços anatômicos desfavoráveis, é possível que estes se tornem cada vez menos comuns em exposições, e conseqüentemente menos filhotes nascerão com tais traços e o ciclo será rompido, demonstrando assim, toda a beleza que a raça possui. (Anexos, figura: 28 e 29).

PAULA CHICONI DACUNTO DOS SANTOS

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Gilberto Medeiros

Colaborador do Bullblog e Criador de Bulldogs desde 2003

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